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O dicionário, por exemplo, define a paixão como “amor intenso capaz de ofuscar a razão”. O amor é uma “forte afeição por outra pessoa”. Afeição é um “sentimento amoroso em relação a alguém”. A atração é um “interesse sexual, amoroso ou apaixonado”. O encantamento é uma sensação de “deslumbramento e admiração”. O admirador é aquele que “manifesta uma grande paixão”. Adoração é um “amor excessivo” e a amizade, uma “grande afeição”. Já deu pra perceber que o dicionário é incapaz de descrever qualquer um destes sentimentos sem recorrer a outro. A paixão é um amor intenso, o amor é uma afeição forte e a afeição um tipo de amor. O encantamento é uma forte admiração, a admiração é uma grande paixão e assim por diante.
O que isso quer dizer? Simples: estes sentimentos são fluidos demais para serem aprisionados em palavras.
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[...] tentamos compulsivamente definir nossas emoções através de palavras. Assim, se é inevitável falar sobre sentimentos tão fluidos e de significados tão desordenados, a solução é nunca perder de vista que as palavras serão sempre insuficientes. Fale. Em seguida, escute. Depois, deixe a emoção fluir.
“Silencio. No hay banda”.
[Vange Leonel]